Calendário litúrgico, vestes e objetos litúrgicos

Essa apresentação foi desenvolvida como parte do Curso de Crisma de Adultos, da Paróquia São Pio de Pietrelcina, em Brasília. Não se trata de um documento formal da paróquia.

Não se trata de um curso de liturgia, nem tem a pretensão de esgotar o assunto. São apenas anotações de aula, que demandam complemento e explicação por parte do catequista.

Na casa de meu Pai há muitas moradas

A reflexão escatológica, ou simplesmente, sobre como serão os últimos acontecimentos, talvez seja uma das maiores curiosidades do ser humano, haja vista que nossa capacidade intelectual não é capaz de sequer se aproximar do mistério trinitário.

O primeiro passo para se afastar do risco de que esse pensamento nos traga uma paralisia pela nossa incapacidade é pensar no campo da ação: o que eu preciso fazer para alcançar o que Deus preparou para nós?

Nesse aspecto, a Revelação Divina (Escrituras, Tradição e Magistério) já nos dá muitas contribuições e eu queria deixar aqui uma reflexão que tenho feito, que provavelmente já deve ter sido escrita por alguém, haja vista a grande quantidade de teólogos e santos que contribuíram com alguma reflexão a respeito. Mas, enfim, prefiro correr o risco de ser repetitivo ao de não a fazer.

Ora, não havia mais vinho, pois o vinho do casamento tinha-se acabado. Então a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. (…) Havia ali seis talhas de pedra para purificação dos judeus, cada uma contendo de duas a três medidas. Jesus lhes disse: “Enchei as talhas de água”. Eles as encheram até a borda. Então lhes disse: “Tirai agora e levai ao mestre-sala”. Eles levaram. Quando o mestre-sala provou a água transformada em vinho – ele não sabia de onde vinha, mas o sabiam os serventes que haviam retirado a água – chamou o noivo e lhe disse: “Todo homem serve primeiro o vinho bom e, quando os convidados já estão embriagados serve o inferior. Tu guardaste o vinho bom até agora!”. (Jo 2,3; 6-10)

É aqui que entram as talhas. Talhas são objetos úteis para armazenar água. Se o próprio Jesus é fonte de água viva, como disse à samaritana (Capítulo 4, do Evangelho de São João), parece bem razoável que guardar essa água seja necessário. Há inúmeras citações relacionando a água a Jesus e ao Espírito Santo, mas fiquemos apenas com esta da samaritana.

Então Iawheh Deus modelou o homem com a argila do solo, insuflou em suas
narinas um hálito de vida e o homem se tornou um ser vivente. (Gn 2,7)

Quando nascemos, fomos transformados nessas talhas. Nós, que não éramos nada, viemos a este mundo por pura graça divina. E é para Deus que devemos voltar.

Mas Deus é tão bom que nos deu a liberdade para receber ou rejeitar essa água desde sempre derramada sobre Seus filhos. Infelizmente, muitos optam, conscientemente, por quebrar a sua talha e viver fora da graça. Não é sobre esses que quero falar.

Quero falar sobre os que lutam, do nascer ao pôr do sol, para encher sua talha, e, de preferência, alcançar a vida eterna com a talha cheia até a tampa, para que Jesus transforme tudo em vinho novo. 

Qual é o problema para essas pessoas? O primeiro são os buracos que se formam ao longo da vida. No Batismo os buracos são consertados e recebemos uma camada de proteção, mas os dias passam e os pecados vão furando a talha. Quando nos damos conta (muitos nem se dão conta, o que é pior), nossa talha está toda furada e a água (graça) recebida escoa livremente. 

Como consertar esses buracos? Palavra de Deus, oração, jejum, penitência e, principalmente, frequência aos sacramentos, especialmente à Confissão e à Eucaristia. Estes tampam nossos buracos e ajudam a proteger a parede da talha.

Pensando numa “estratégia de conservação” da talha, o ponto de partida é lutar contra o pecado. Os pecados vão estragando nossa talha. Assim como na vida real, os remendos vão deixando as paredes mais fracas. Se as paredes estiverem fracas, na hora de transformar água em vinho, o vinho novo romperá as paredes e tudo se perde. Por isso acredito que, mesmo que morramos em estado de graça, precisaremos passar pelo purgatório para reforçar as paredes da talha. Passar pelo esforço que não fizemos aqui para impedir os buracos. Esse é um dos motivos, o outro veremos mais adiante.

Certo homem de posição lhe perguntou: “Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?” Jesus respondeu: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus! Conheces os mandamentos: Não cometas adultério, não mates, não roubes, não levantes falso testemunho; honra teu pai e tua mãe”. Ele disse: “Tudo isso tenho guardado desde a minha juventude”. Ouvindo, Jesus disse-lhe: “Uma coisa ainda te falta. Vende tudo que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me”. Ele, porém, ouvindo isso, ficou cheio de tristeza, pois era muito rico.
(Lc 18,18-23)

Muito bem, você conseguiu vencer os pecados mais graves, aqueles que furam sua talha. Aí você percebe que sua talha está sempre transbordando. Seria por que você está recebendo graças em excesso? Não!!! É porque você carregou um monte de pedras na sua talha que estão tomando espaço da água.

Ah essas pedras … Como são difíceis de tirá-las. São pecados veniais acumulados e imperfeições. Alguns, fruto, inclusive, do seu sucesso em não deixar abrir buracos na talha. Já entendeu quais são?

Sim, são aqueles ligados à soberba, à vaidade, ao egoísmo, aos apegos, aos vícios… Quantas vezes nos achamos melhores que os outros porque rezamos mais tempo, porque estamos dentro da Igreja, porque fazemos umas doações, por que vamos à missa? “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade” (Eclesiastes 1,2).

Nosso caminho de santidade esbarra frequentemente no pensar que somos merecedores da salvação por nossos próprios méritos. Vaidade das vaidades.

Essas pedras que carregamos são o segundo motivo que nos leva ao purgatório. Precisamos quebrá-las. Não podemos entrar na vida eterna carregando peso, com sentimentos que nos prendem à vida terrena. Qual o remédio? Buscar as virtudes, aumentar a dose da oração, do jejum e da penitência e a frequência aos sacramentos. 

Não conheço um santo que ao fazer isso não tenha aumentado seu amor por Deus e pelo próximo. Aliás, esse é o segredo para aumentar a nossa talha. Sim, umas pessoas chegarão lá com suas talhas furadas, outras perderão pedaços das suas, outras, ainda, cheia de pedras. Mas haverá aquelas que, ao levarem uma vida em busca da santidade, conseguirão a graça de que o oleiro aumente a sua talha. Muitos, inclusive, os chamados santos, já experimentaram, em vida, a transformação da água em vinho, em grandes talhas. Nós também podemos experimentar isso.

Dizem que no céu há muitas moradas. Todos seremos felizes com as talhas que teremos. O importante é chegarmos com elas cheias. Não sabemos a diferença da felicidade, se é que existe diferença, entre talhas de diferentes tamanhos. Como nos ensina Santa Teresinha, todas as flores exalam seu perfume e exibem sua beleza. A nós não cabe definir nossa morada, apenas nos deixarmos moldar pelo Senhor da Criação.

E você? Como está? Sua talha é grande ou pequena? Poucos ou muitos furos? Carregando muitas pedras?

Que o Espírito Santo nos conceda a inteligência e a sabedoria para identificar os furos e as pedras, bem como a fortaleza para seguirmos firmes no propósito de não mais pecar, de nos libertar dos nossos apegos e de buscar as virtudes.  

Assim, estaremos prontos para nos aproximar de vivermos um amor esponsal com Nosso Senhor Jesus Cristo.

Que a Santíssima Virgem seja nosso modelo e, em sua infinita bondade, interceda por nós.

O único necessário

16º Domingo do Tempo Comum – 17/07/2022

“Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada!”

A liturgia deste domingo nos presenteia com uma reflexão sobre a Acolhida. Sabemos que Jesus é o caminho, a verdade e a vida. Mas quanto essa verdade é, de fato, recebida em nosso coração?

Na Primeira Leitura, Abraão mostra como acolher verdadeiramente. Na hora mais quente do dia, levanta-se e oferece o que tem de melhor para aqueles visitantes (três anjos ou a própria Trindade — como afirmam alguns estudiosos) que chegam sem avisar. Oferece com gratuidade do que tem e recebe a graça do anúncio da maternidade de Sarah. Finalmente o cumprimento da promessa.

Marta e Maria também são hospitaleiras com Jesus. Há uma intimidade entre eles, a ponto de Marta reclamar com Jesus. Marta é como nós, agitada, preocupada com as coisas do dia a dia, ainda que estas sejam feitas com a melhor das intenções e pelos melhores motivos. Elas nos roubam o tempo. Sim, elas precisam continuar sendo feitas. Mas, no meio de tanta agitação, é preciso saber diferenciar entre o que é importante e o que é essencial.

Santa Teresa explicava que, já mais adiantados no caminho de santidade, pensamos ser bons fazendeiros que chegam a oferecer o melhor do que foi produzido a Deus. Mas não oferecemos a gestão da propriedade. Entregamos nossa vida a Deus, mas queremos manter o controle da situação. Esperamos que Deus nos ajude naquilo que decidimos fazer, quando, na verdade, deveríamos colaborar naquilo que Deus quer que nós façamos. Difícil né?

Não basta abrir nossa casa para Jesus e ficar de consciência tranquila por deixa-lo ficar no melhor quarto. Jesus quer que entreguemos a nossa casa para ele gerir. É importante servir Jesus, mas o essencial é fazer a vontade de Deus. Quanto mais fizermos a vontade de Deus, mais intimidade teremos com Jesus. Para fazer a vontade de Deus precisamos seguir os ensinamentos de Jesus. É isso que nos salvará e nos levará à contemplação eterna, que já pode começar aqui. Maria entendeu isso.

Assim poderemos então encontrar a resposta à pergunta do Salmo: “Senhor, quem morará em vossa casa?”. Morará na casa do Senhor aquele que abrir, verdadeiramente, a sua casa (mente e coração) para o Senhor. É dar do pouco que já recebemos por graça, para ganharmos tudo que Deus tem reservado para nós.

Que a Virgem do Carmo nos inspire a abrir a nossa casa, como ela fez ao acolher o Filho de Deus em seu ventre. Maria não fez a vontade de Deus porque era mãe de Jesus. Maria foi mãe de Jesus porque fez a vontade de Deus.

Ó Deus, sede generoso para como os vossos filhos e filhas e multiplicai em nós os dons da vossa graça, para que, repletos de fé, esperança e caridade, guardemos fielmente os vossos mandamentos. (Oração do Dia)

Leituras do dia:

1ª Leitura (Gn 18,1-10a)

Do Salmo 14/15

2ª Leitura (Cl 1,24-28)

Evangelho (Lc 10,38-42)

Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?

21º Domingo do Tempo Comum  22/08/2021

“A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Essa resposta de Pedro parece simples e fácil. Mas não é. Para muitos, as palavras de Jesus são duras. E duras por quê? Porque vão de encontro à nossa vontade, ao nosso comodismo, aos prazeres que teremos que renunciar. Escutá-las significa colocá-las em prática. 

Então, a nossa inteligência e a nossa vontade optam, deliberadamente, por não escutá-las ou tentar argumentar que essa não é a vontade de Deus, que é um exagero. Ou, simplesmente, “Esta palavra é dura”. Percebam que Jesus não tenta fazer o discurso do politicamente correto para agradar e manter seus seguidores. Na verdade, Ele vai além. E diz aos doze: “Vós também quereis ir embora?”

É preciso recordar que estamos no final do capítulo 6 do Evangelho de João, o chamado evangelho do Pão da Vida. Estamos um ano antes da morte de Jesus na cruz. E Jesus comunicava que Ele se daria no pão e no vinho: “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente”. O sentido de um Deus que se entrega como alimento era de difícil compreensão para aquelas pessoas. Mas será que era somente para aquelas pessoas?

Ainda hoje, muitos não acreditam na Eucaristia e, muitos dos que dizem acreditar, não dão o devido valor a esse sacramento. E por quê? Porque não entendem o seu significado. É como querer que uma pessoa deseje ir a uma ópera, um balé, uma partida de futebol americano, sem entender o que acontece ali. 

As pessoas não entendem que Deus nos ama infinitamente e quer o melhor para nós. Mal comparando, é como um pai ou uma mãe que proíbem o filho de fazer algo sabidamente ruim. 

Na Primeira Leitura, diante dos questionamentos e da adoração a outros deuses (esses deuses representam aquelas coisas que cultuamos mais que a Deus), Josué diz para o povo: “escolhei hoje a quem quereis servir”. E o próprio Josué aponta a resposta: “Quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor”.

O Salmo nos mostra como acolher e obedecer a essas palavras consideradas duras: “Provai e vede quão suave é o Senhor!”. É simples! Quando comemos e bebemos do Corpo e Sangue de Cristo, assim como Ele mesmo ensinou, é o próprio Deus que vem nos ajudar: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim, a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”. É o próprio Deus, habitando em nós, que vai iluminar nossa mente e abrir o nosso coração.

Receber a Eucaristia alimenta a nossa fé e a nossa fé alimenta o desejo de receber a Eucaristia. E, assim, as palavras, que pareciam duras, se tornam música aos nossos ouvidos e refrigério para nossa alma. 

Ó Deus, que unis os corações dos Vossos fiéis num só desejo, dai ao Vosso povo amar o que ordenais e esperar o que prometeis, para que, na instabilidade deste mundo, fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias. (Oração do Dia)

Leituras do dia:

1ª Leitura (Js 24,1-2ª.15-17.18b)

Do Salmo 33/34

2ª Leitura (Ef 5,21-32)

Evangelho (Jo 6,60-69)

P.S. Estes textos são construídos a partir da liturgia do domingo. Assim, se você ainda não leu ou não lembra o conteúdo, principalmente do Evangelho do dia, sugiro uma leitura preliminar desse.

Uma Mulher Vestida de Sol

Solenidade da Assunção de Nossa Senhora  15/08/2021

Difícil falar de Nossa Senhora sem cair na tentação de contar experiências pessoais. Sim. É no sentir que aprendemos a amar Maria, nas pequenas e nas grandes coisas da vida. E, diante da presença daquela que tanto nos ama, é que buscamos compreender quem é essa “mulher revestida de sol”, de que nos fala o livro do Apocalipse.

Mas, diferentemente de Eva, fugirei da tentação. Afinal, não estou aqui para dar testemunhos, mas para tentar mostrar um pouco da riqueza das nossas liturgias dominicais. E, neste domingo, podemos participar de uma das mais belas páginas da nossa doutrina: “… declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial” (Munificentissimus Deus n. 44).

Que linda declaração! Numa só frase, para declarar o quarto dogma mariano, a Igreja reúne os três dogmas anteriores: Imaculada, Mãe de Deus e Sempre Virgem. 

Em Maria parece haver um descumprimento da promessa de Cristo em relação à ressurreição dos homens, como descreve São Paulo na Segunda Leitura: “Em primeiro lugar, Cristo, como primícias; depois os que pertencem a Cristo, por ocasião de Sua vinda”. Maria é tão intimamente ligada a Cristo que não precisa esperar a nova vinda de Cristo para receber seu corpo glorificado. 

Afinal, aquela que foi concebida sem pecado (imaculada), que não pecou durante toda sua vida, que se configurou totalmente à vontade de Deus e que amou como nenhum ser humano é capaz de amar, não precisaria passar pela corrupção da morte. Sem entrar no mérito se Maria morre ou simplesmente “dorme”, a Igreja proclama que ela foi assunta aos céus, transcorrido o curso de sua vida. Não ascendeu sozinha como Cristo, mas foi elevada pelos méritos da morte de seu Filho Único. Desde sua imaculada concepção até à sua assunção, todas as graças foram recebidas como primícias da salvação realizada por Cristo.

É assim que podemos viver. Já fomos redimidos pela morte de Cristo. Nossa salvação já nos foi dada. Basta manifestarmos o nosso desejo e o nosso esforço em cumprir a vontade do Pai. Precisamos fazer como Maria: esmagar a cabeça da serpente, pisar nos pecados. E, assim, esperarmos o dia de, com ela, entrar na glória celeste.

“Que a mãe do meu Senhor”, como diz Isabel no Evangelho, possa nos visitar hoje e sempre, e que nós possamos ver o cumprimento da profecia do Magnificat: “Doravante todas as gerações me chamarão de bem-aventurada”. 

Suba até Vós, ó Deus, o nosso sacrifício, e, pela intercessão da Virgem Maria, elevada ao céu, acendei em nossos corações o desejo de chegar até Vós. (Oração sobre as Oferendas)

Leituras do dia:

1ª Leitura (Ap 11,19a;12,1.3-6a.10ab)

Do Salmo 44/45

2ª Leitura (1Cor 15,20-27a)

Evangelho (Lc 1,39-56)

P.S. Estes textos são construídos a partir da liturgia do domingo. Assim, se você ainda não leu ou não lembra o conteúdo, principalmente do Evangelho do dia, sugiro uma leitura preliminar desse.

A Vida Eterna??? Já começou …

19º Domingo do Tempo Comum  08/08/2021

Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comernunca morrerá. Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente”. 

Jesus parece repetitivo em seu discurso (‘nunca morrerá’ e ‘viverá eternamente’), mas, na verdade, não o é. Alguns pensam que a vida eterna é uma vida que “ganhamos” depois da morte. Não. A vida eterna começou para nós desde que fomos concebidos, porque, de fato, ela já nos foi dada com o sacrifício de Cristo na cruz. Ou seja, temos uma única vida. Se não morrermos fora de Cristo, viveremos para a eternidade.

Para vivermos em Cristo, Ele nos aponta duas coisas que são necessárias: crer e se alimentar do pão vivo descido céu. O ‘crer’ não é somente um ato de inteligência. É um ato de vida. Tal qual o corpo físico, o ‘crer’ precisa ser alimentado diariamente. 

Vejamos o profeta Elias, na primeira leitura. Havia acabado de vencer uma batalha contra todos os profetas de Baal. Aparentemente um grande vencedor. Mas disso resultou ser perseguido e teve quer fugir para o deserto. Estava cansado, esgotado e pede que o Senhor lhe tire a vida. Mas ainda tinha uma missão a cumprir. A morte não é, necessariamente, a solução para os nossos problemas. E um anjo aparece e o manda beber e comer o pão que ali foi oferecido por Deus. E ele encontra força para caminhar mais 40 dias e 40 noites e, finalmente, chegar ao Horeb, o monte de Deus.

A vida de Elias é um retrato da nossa vida de cristãos neste mundo. Passamos (ou deveríamos passar) um bom tempo tentando fazer a vontade de Deus, professando a nossa fé, lutando contra o mal que avança neste mundo. E isso nos deixa exaustos, porque as forças contrárias são muito grandes. Mas Deus não nos dá uma missão sem que nos entregue os meios necessários para realizá-la. 

E esses meios nós encontraremos na Eucaristia, o pão vivo descido do céu. Esse é o nosso verdadeiro alimento espiritual. É na Eucaristia, presença real de Jesus Cristo, que recobramos as forças, que sustentamos a nossa fé, o nosso crer. É um grande círculo virtuoso: é preciso crer que a Eucaristia é nosso alimento e nos alimentamos para continuar crendo.  

Para que a Eucaristia nos alimente de verdade é preciso que comunguemos bem. Se a Eucaristia não está transformando a nossa vida, nós não estamos comungando bem. O alimento está dado. É Cristo que, como diz São Paulo aos Efésios, “nos amou e Se entregou a Si mesmo a Deus por nós, em oblação e sacrifício de suave odor”. 

Então, aproveitemos esse alimento. Não joguemos fora a promessa de que “Quem comer deste pão viverá eternamente”. Busquemos a Eucaristia, com fé, com amor, com desejo, mas, antes de tudo, preparados espiritualmente para recebê-la.

Que o santo de devoção de cada um vos inspire, com seu exemplo de vida, a começar a vida eterna já aqui neste mundo. É possível isso? Com nossas próprias forças, não. Mas, com a graça de Deus, poderemos afirmar como São Paulo aos Filipenses: “tudo posso naquele que me fortalece”.

Ó Deus, acolhei com misericórdia os dons que concedestes à Vossa Igreja e que ela agora Vos oferece. Transformai-os por Vosso poder em sacramento de salvação. (Oração sobre as Oferendas)

Leituras do dia:

1ª Leitura (1Rs 19,4-8)

Do Salmo 33/34

2ª Leitura (Ef 4,30-5,2)

Evangelho (Jo 6,41-51)

P.S. Estes textos são construídos a partir da liturgia do domingo. Assim, se você ainda não leu ou não lembra o conteúdo, principalmente do Evangelho do dia, sugiro uma leitura preliminar desse.

EU SOU

18º Domingo do Tempo Comum  01/08/2021

No livro do Êxodo 3,14, Deus comunica a resposta que Moisés deveria dar quando perguntassem o nome do Deus de seus pais: “EU SOU AQUELE QUE SOU”.  

Jesus vai dizer no evangelho de hoje “EU SOU o pão da vida. Quem vem a Mim não terá mais fome e quem crê em Mim nunca mais terá sede”. O Deus que “deu para comer o pão do céu” é o mesmo Deus que desceu do céu para se fazer alimento.

São Paulo, na segunda leitura, vai nos alertar: “Não continueis a viver como vivem os pagãos, cuja inteligência os leva para o nada”. Por que esse aviso? Porque gastamos nosso tempo buscando a felicidade nas coisas que passam. E a nossa vida espiritual vai sendo preguiçosa, enquanto estamos felizes por receber o pão material e estar satisfazendo nossos desejos.

Jesus mesmo diz “… estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”. E o que são esses sinais? São sinais de que Jesus é o Filho de Deus, que “é o alimento que permanece até a vida eterna”.

Para realizar as obras de Deus é necessário que acreditemos naquele que Ele enviou. Ou seja, precisamos ter FÉ. É a fé que nos abre os olhos para ver os sinais e para nos abrirmos à verdade de que Jesus se faz presente na Eucaristia. Verdadeira comida, que sacia nossa fome, verdadeira bebida, que sacia nossa sede. “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sal 41/42,3).

O que fazer então? São Paulo, aos Efésios, nos exorta a despojarmo-nos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e revestirmo-nos do homem novo. O homem novo precisa passar pelo deserto. É no deserto que costuma vir a murmuração. Quanto tempo perdemos da nossa vida murmurando pelas coisas que perdemos ou pelas dificuldades que estamos enfrentamos?

E o alimento para atravessar o deserto já foi dado. De nossa parte, é preciso fazer o que Jesus ensinou: “Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna”. Viver na emoção das graças recebidas é fácil, mas é no dia a dia que precisamos procurar o alimento para a vida eterna. Para isso devemos nos ESFORÇAR em ter uma vida santa e participar dos sacramentos, especialmente confissão e comunhão. O alimento espiritual é que nos garante a vida eterna.

Um verdadeiro cristão não vive somente de consolações. São nas desolações que se consolida a fé verdadeira. É na fé verdadeira que poderemos nos alimentar do Pão da Vida.   

Deus Pai, que enviastes o Vosso Filho, que nos dá o verdadeiro Pão do Céu, saciai a fome e a sede que temos de Vós.  (Oração dos Fiéis)

Leituras do dia

1ª Leitura (Êx 16,2-4.12-15)

Do Salmo 77/78

2ª Leitura (Ef 4,17.20-24)

Evangelho (Jo 6,24-35)

P.S. Estes textos são construídos a partir da liturgia do domingo. Assim, se você ainda não leu ou não lembra o conteúdo, principalmente do Evangelho do dia, sugiro uma leitura preliminar desse.

Jesus olhou para mim

17º Domingo do Tempo Comum  25/07/2021

Muito difícil ouvir essa passagem da Escritura e não focar a atenção no milagre da multiplicação dos pães. Até porque a Primeira Leitura já prepara o nosso olhar e apresenta uma prefiguração desse momento: Eliseu, com 20 pães, saciou 100 pessoas: “Comerão e ainda sobrará”.  No Evangelho, Jesus, com 5 pães e 2 peixes, saciou 5.000, sem contar mulheres e crianças.

A palavra de Deus é uma maravilha. Repetidas leituras de um mesmo texto possibilitam recebermos diferentes mensagens. E, desta vez, o toque de Deus veio no momento anterior à multiplicação, no qual Jesus levantou os olhos e viu a grande multidão que vinha ao Seu encontro. Foi dessa forma que eu me vi dentro do Evangelho, fazendo parte daquela multidão. Jesus levantou os olhos e me viu. Me viu! Jesus sabe que eu tenho fome. Jesus sabe do que eu tenho fome. Fome de pão. Fome de Deus.

Deus tudo pode. Tem poder para criar do nada. Mas Deus quer precisar dos meus 5 pães e dois peixinhos. Tão insignificante, eu sei! Mas, como criatura livre que sou, Deus não age sem a minha aceitação. Minha capacidade de fazer algo é sempre tão pequena, diante do Seu poder, mas Deus quer esse pouco como condição para que Ele intervenha. E Ele o fará, para o meu bem, para minha salvação.

É preciso dar do que tenho e do que sou; oferecer a Jesus, que Ele transforma. Como fez em Caná. É a partir da minha caridade que minha fé se concretiza. Deus quer precisar de mim. Como disse São Paulo aos Efésios, “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo, um só Deus e Pai de todos, que reina sobre todos, age por meio de todos e permanece em todos.

Ação é igual a permanência. Haverá momentos que nada tenho para entregar. Não importa. Entregarei o meu nada, as minhas misérias, as minhas angústias, os meus medos, na certeza de que Ele é o Senhor da minha vida e que comerei e ainda sobrará. E ele permanecerá em mim e eu Nele.

E sobraram doze cestos. O número dos apóstolos. A Igreja é o melhor lugar onde posso saciar a minha fome de Deus. A multiplicação dos pães anuncia a eucaristia, momento em que o Senhor se dá na caridade perfeita, Aquele se oferece como vítima para expiação pelos meus pecados. É pela eucaristia que a Trindade vem fazer morada dentro de mim e me curar de toda enfermidade espiritual.

Que a Virgem Maria, modelo de entrega total a Cristo, nos ajude a fazer nosso oferecimento diário de nós mesmos!  

Ó Deus, sois amparo dos que em Vós esperam e, sem Vosso auxílio, ninguém é forte, ninguém é santo; redobrai de amor para conosco, para que, conduzidos por Vós, usemos de tal modo os bens que passam que possamos abraçar os que não passam.  (Oração do Dia)

Leituras do dia

1ª Leitura (2Reis 4,42-44)

Do Salmo 144/145

2ª Leitura (Ef 4,1-6)

Evangelho (Jo 6,1-15)

P.S. Estes textos são construídos a partir da liturgia do domingo. Assim, se você ainda não leu ou não lembra o conteúdo, principalmente do Evangelho do dia, sugiro uma leitura preliminar desse.

Vinde para um lugar deserto

16º Domingo do Tempo Comum  18/07/2021

Os apóstolos haviam acabado de voltar da missão à qual haviam sido enviados dois a dois. Estavam felizes, porém cansados. E o Senhor os convida: “Vinde sozinhos para um lugar deserto e descansai um pouco”. No entanto, muitos os reconheceram e “saindo de todas as cidades, correram a pé e chegaram lá antes deles”. E Jesus teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. 

Somos esse povo em busca de Jesus. Muitas vezes estamos cansados de carregar as nossas cruzes e de cumprir a nossa missão de discípulos, no serviço à Igreja e ao próximo. E nosso descanso está em Jesus. Ele não fala aos apóstolos “ide” descansar. Pelo contrário, ele os chama: “Vinde sozinhos”. Esse convite é para nós também.

Como confirma o Salmo, “Ele me leva a descansar. Para as águas repousantes me encaminha e restaura as minhas forças”. É na oração e nos sacramentos que nos encontramos com Jesus. É na oração e nos sacramentos que encontramos alimento para nossa alma. 

São Paulo, na Carta aos Efésios nos diz: “Ele veio anunciar a paz a vós, que estáveis longe, e a paz aos que estavam próximos”. Seja dentro da barca ou chegando por terra, Jesus é Aquele que quer morar dentro de nossos corações e nos trazer a verdadeira paz. Como dizia o Santo Padre Pio, “A oração faz desaparecer a distância entre o homem e Deus”. A Eucaristia vai além: traz o Deus para morar dentro de nós; o mistério da inabitação. 

O descanso é importante para nossa vida física e espiritual. Nosso descanso tem que ser diário, pois é nele que restabelecemos nossas forças. Para isso precisamos de nossos momentos de deserto, afastados do barulho do mundo. É no silêncio que Deus nos fala. São Josemaria Escrivá dizia: “O silêncio é o grande “porteiro da vida interior”, sem o qual é absolutamente impossível ter intimidade com Deus”.

Nossa missão é grande. Jesus nos chama a sair para anunciar o Evangelho, em um mundo que O rejeita cada vez mais. Não importa a vocação que cada um escolheu. E será no descanso que restauraremos as nossas forças, mesmo que às vezes a missão atrapalhe esse descanso.

Que o Glorioso São José, que nos ensinou com seu silêncio, seja nossa proteção e inspiração!  

Cristo revela a Sua solicitude para conosco, pois Ele nos alimenta com a Sua Palavra e, principalmente, com o Seu Corpo e Sangue, expressando, assim, a Sua compaixão por todos nós e restaurando-nos com a Sua misericórdia.  (Introdução)

1ª Leitura (Jr 23,1-6)

Do Salmo 22/23

2ª Leitura (Ef 2,13-18)

Evangelho (Mc 6,30-34)

P.S. Estes textos são construídos a partir da liturgia do domingo. Assim, se você ainda não leu ou não lembra o conteúdo, principalmente do Evangelho do dia, sugiro uma leitura preliminar desse.